Crónicas do Grande Despertar | Crónicas del Gran Despertar

30/01/2024

O “ateísmo líquido” de Francisco (e 5) | El “ateísmo líquido” de Francisco (y 5)


Excertos da entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, acerca da publicação do seu livro "O fim do cristianismo".

«— Voltando de novo ao argumento do mercado, ao escutar-nos, muitos poderiam dizer: “Mas eu ouvi, eu li, Bergoglio a opor-se ao mercado, a criticar o mercado”. De facto, esta seria a razão pela qual este papa é considerado um papa de esquerda ou, pelo menos, um pouco à esquerda.
— No meu livro Pensar Diferente, defendo que o capitalismo faz a gestão não só do consenso como da dissidência. Assim, também neste aspecto é totalitário. Gere não só o consenso, como produz também aquilo que designo como “uma crítica conservadora”, que tem dois modos fundamentais de expressão.
Por um lado temos a crítica conservadora dos discípulos de Heidegger, que dizem que o mundo da técnica é terrível, obsceno, mas que não há nada a fazer, que só Deus nos pode salvar. E, portanto, esta crítica acaba por ser uma apologia do capitalismo, porque, ao dizer que é horrível mas não existe alternativa, acaba por justificá-lo. Daí que se trate de uma crítica conservadora.
A segunda modalidade de crítica conservadora é a de quem critica a globalização, por exemplo, ou a destruição do meio ambiente, mas, ao mesmo tempo, critica também o que se opõe realmente à globalização e à destruição do meio ambiente. Ponho um exemplo: Greta Thunberg representa o ecologismo neoliberal, porque nunca intenta uma luta contra o capitalismo e contra as classes dominantes que destroem o meio ambiente. É celebrada, tal como Bergoglio, em todos os meios de comunicação, porquê? Porque as classes dominantes precisam de evitar que o ambientalismo se transforme em anticapitalismo, e dizem portanto: “Nós vamos ocupar-nos de meio ambiente! Economia verde!”. E, através dessa “economia verde”, transformam o ambientalismo em fontes renováveis de negócio.
Passa-se o mesmo com Bergoglio, porque, se é verdade que critica a desigualdade, as finanças, o capitalismo… é certo que critica também tudo o que, em concreto, se lhes opõe. Por exemplo, se Bergoglio estivesse realmente contra o capitalismo, deveria valorizar o populismo. Bergoglio critica o capitalismo e a seguir diz: “Quando ouço falar em soberania nacional, penso logo no nazismo”. Assim, no meu entender, Bergoglio faz parte da crítica conservadora.

— Julgo que fica bem clara a tua posição.
— Está claro que o meu discurso sobre a Igreja católica será recebido por muitos como o discurso de um ultracatólico que quer voltar à verdadeira Igreja. Não é verdade; eu sou um hegeliano, para mim existe na religião um elemento verdadeiro, mas não sou um homem confessional.

— E consideras que esse elemento verdadeiro foi esquecido nesta Igreja de Bergoglio?
— Completamente. Hoje existe uma convergência integral entre a esquerda caviar neoliberal e a Igreja pós-cristã de Bergoglio. Eu digo, no livro, que “Bergoglio é, para a Igreja de Roma, o mesmo que Gorbatchov foi para a União Soviética”. Gorbatchov propôs a perestroika, que seria uma renovação, uma modernização, mas que, na realidade, destruiu o comunismo.
Na minha opinião, houve um erro fundamental, tanto no comunismo como na Igreja católica do século XX, pois fizeram uma guerra entre si sem dar-se conta de que seria o capitalismo quem os mataria, a ambos. Esse era o ponto fundamental. O verdadeiro inimigo do cristianismo não é o comunismo, que, como dizia Pasolini, tem o seu próprio impulso espiritual, de não se conformar com o que está. O verdadeiro inimigo do cristianismo é o capitalismo.»

* * * * *

Extractos de la entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, sobre la publicación de su libro "El fin del cristianismo".

«—Volviendo un poco al argumento del mercado, muchos podrían decir al escucharnos: «Pero yo he oído, he leído a Bergoglio oponerse al mercado, criticar al mercado». De hecho, esta sería la razón por la que este papa es considerado un papa de izquierda o, al menos, un poco más de izquierda.
—En mi libro Pensare altrimenti, que en España se tradujo como Pensar diferente, sostengo que el capitalismo no solo gestiona el consenso, sino que también gestiona la disidencia. De esta manera, es totalitario también en este aspecto. No solo gestiona el consenso, sino que también produce lo que llamo «una crítica conservadora» que tiene dos modos fundamentales de expresión.
Por un lado tenemos la crítica conservadora de los discípulos de Heidegger, que dicen que el mundo de la técnica es terrible, obsceno, pero que no hay nada que hacer, que solo Dios nos puede salvar. Y, por lo tanto, esta crítica termina siendo una apología del capitalismo, porque si dices que es horrible pero que no hay alternativa, lo estás justificando. De ahí que se trate de una crítica conservadora.
La segunda modalidad de crítica conservadora es la de quien critica la globalización, por ejemplo, o la destrucción del medio ambiente, pero al mismo tiempo critica también lo que se opone realmente a la globalización y a la destrucción del medio ambiente. Pongo un ejemplo: Greta Thunberg representa el ecologismo neoliberal, porque nunca emprende una lucha contra el capitalismo y contra las clases dominantes que destruyen el medio ambiente. Se la celebra como a Bergoglio en todos los medios de comunicación, ¿por qué? Porque son las clases dominantes las que necesitan evitar que el ambientalismo se vuelva anticapitalismo, y por tanto dicen: «¡Nosotros nos ocuparemos del medio ambiente!, ¡economía verde!». Y mediante esa «economía verde» transforman el ambientalismo en fuentes renovables de negocio.
Lo mismo pasa con Bergoglio, porque si bien es verdad que critica la desigualdad, las finanzas, el capitalismo… lo cierto es que critica también todo lo que en concreto se les opone. Por ejemplo, si Bergoglio estuviera realmente en contra del capitalismo, debería valorar el populismo. Bergoglio critica el capitalismo y luego va y dice: «Cuando oigo hablar de soberanía nacional, me viene a la mente el nazismo». Por tanto, Bergoglio forma parte a mi juicio de la crítica conservadora.

—Creo que queda bien nítida tu posición.
—Está claro que mi discurso sobre la Iglesia católica será recibido por muchos como el discurso de un ultracatólico que quiere volver a la verdadera Iglesia. No es así, yo soy un hegeliano, para mí en la religión hay un elemento verdadero, pero no soy un hombre confesional.

—¿Y encuentras que este elemento verdadero se olvida en esta Iglesia de Bergoglio?
—Totalmente. Hoy hay una convergencia integral entre la izquierda fucsia neoliberal y la Iglesia poscristiana de Bergoglio. Yo en el libro digo que «Bergoglio es para la Iglesia de Roma lo mismo que Gorbachov fue para la Unión Soviética». Gorbachov propuso la perestroika, que sería una renovación, una modernización, pero en realidad destruyó el comunismo. Y eso fue una tragedia, la mayor tragedia de la historia del siglo XX. Bergoglio quiere hacer una perestroika de la Iglesia, abrirla al mundo, hacerla progresar, pero haciéndolo así la destruye como Gorbachov hizo con el comunismo.
En mi opinión, hubo un error fundamental tanto del comunismo como de la Iglesia católica en el siglo XX, ya que se hicieron la guerra entre sí sin darse cuenta de que sería el capitalismo el que los mataría a ambos. Ese era el punto fundamental. El verdadero enemigo del cristianismo no es el comunismo que, como decía Pasolini, tiene su propio impulso espiritual, de no conformarse con lo que hay. El verdadero enemigo del cristianismo es el capitalismo.» [artigo original]

23/01/2024

O “ateísmo líquido” de Francisco (4) | El “ateísmo líquido” de Francisco (4)


Excertos da entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, acerca da publicação do seu livro "O fim do cristianismo".

«— Se no próximo conclave se desse a eleição de um novo papa, que mudasse um pouco esta orientação bergogliesca, por assim dizer, da Igreja, o que aconteceria? Porque não voltaríamos exactamente a essa pequena Igreja antes citada, até se poderia pensar novamente numa Igreja plena, grande, mas oposta ao capitalismo.
— Creio que... o facto de Bergoglio falar sobre a sua possível abdicação é um sinal importante porque, evidentemente, ainda que não apareça no discurso público, a sede está vacante. Está vacante porque Bergoglio não é o papa: o papa era o outro.

— Achas que ele pensa o mesmo?
— Sabe muito bem que, tecnicamente, não é o papa. Pode celebrar-se um conclave para eleger um novo papa, com os bispos blindados por Bergoglio, de modo a parecer um papa legítimo, quando na realidade estará sempre na mesma linha antipapal.

— Então, o novo papa também não seria legítimo?
— Se segue nessa linha, não... De algum modo Ratzinger, ao colocar-se em sede impedida, deslegitimou toda essa nova Igreja, que não é a verdadeira.

— Gosto muito dessa tua ideia acerca da liquidez que esvazia o significado de ser católico, de pensar como católico.
— Claro, a nova Igreja liberal progressista de Bergoglio é uma Igreja líquida, é uma Igreja fluída, é uma Igreja que se molda ao modo das exigências do mercado. É a Igreja do misericordismo: a misericórdia transforma-se numa espécie de perdão universal de tudo e de todos, e de um amor universal que, no entanto, esvazia tudo de conteúdo. Bergoglio, num seu texto muito conhecido, a encíclica Fratelli tutti, volta a propor o amor cosmopolita, o que o velho Hegel descrevia como "o latejar pela humanidade", a etapa da alma bela que ama o mundo. Mas, amar o mundo significa não amar ninguém, porque o amor vai sempre, como tratei de afirmar no meu livro A nova ordem erótica. Elogio do amor e da família, do nome próprio ao nome próprio, nunca pode ser amor pelo universal.

— No Evangelho, de facto, não se fala do amor universal, "à humanidade"; fala-se do amor ao próximo.
— Certamente, o pensamento cosmopolita entende o próximo como o "outro", mas não é assim; em latim, proximus significa o que está mais perto de mim. Assim, o amor é para o que está mais perto, não para o "outro". O discurso cosmopolita liberal também nisto é perfeitamente compatível com a nova Igreja de Bergoglio, porque propõe renunciar a amar quem está mais perto para nos abrirmos ao "outro"; ou seja, de algum modo, pede-nos para renunciar ao particular para nos abrirmos ao universal abstracto. Mas nós sabemos que é uma lei da vida que amemos antes de mais o nosso filho, a nossa esposa, o nosso pai, o nosso amigo, o nosso concidadão e, depois, ao que está mais distante. O discurso cosmopolita pede-nos para amar uma cultura universal, a humanidade em abstracto, com o único objectivo de criar indiferença para quem está mais perto: é este o engano do discurso cosmopolita. Já Jean-Jacques Rousseau, em Emílio, dizia que amar a humanidade é só uma desculpa para não te interessares pelo teu próprio vizinho.

— Porque amar a humanidade como tal é amar uma ideia; e é sempre mais fácil amar uma ideia do que a pessoa que está ao teu lado.
— De facto, para Hegel, que questionava o cosmopolitismo iluminado, o universal é sempre o universal concreto. O universal humano existe concretamente nas culturas e nos povos. Por isso, somos humanos na medida em que temos uma língua, somos parte de uma cultura, de um povo, e isto permite-nos entender o engano da União Europeia. A União Europeia pede-nos que renunciemos à nossa identidade nacional para aderirmo-nos à cultura europeia universal. Mas a cultura europeia não existe, senão como cultura italiana, espanhola, francesa ou alemã. É um universal concreto.

— Culturas ligadas entre si...
— Sim, pela sua relação. E, portanto, o discurso de Bergoglio também nisto parece cooperar com esta fluidez cosmopolita, como em muitos outros temas. Se já não há valores absolutos, tudo se torna relativo. Se já não há verdade, também não é possível questionar a falsidade, e, portanto, o poder.»

* * * * *

Extractos de la entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, sobre la publicación de su libro "El fin del cristianismo".

«—Si en el próximo cónclave se produce la elección de un nuevo papa, que luego cambiara un poco esta orientación bergogliesca, por así decir, de la Iglesia, ¿qué sucedería? Porque no volveríamos exactamente a esa Iglesia pequeña antes citada, incluso se podría pensar una vez más en una Iglesia plena, grande, pero opuesta al capitalismo.
—Creo que… el hecho de que Bergoglio esté hablando de su posible dimisión es una señal importante porque, evidentemente, aunque en el discurso público no aparece, la sede está vacante. Está vacante porque Bergoglio no es el papa: el papa era el otro.

—¿Crees que él piensa lo mismo?
—Sabe muy bien que no es técnicamente el papa. Puede celebrarse un cónclave para elegir un nuevo papa con los obispos blindados por Bergoglio, de modo que parezca un papa legítimo, cuando en realidad estará siempre en esa línea antipapal.

—Entonces, ¿tampoco un nuevo papa sería legítimo?
—Si va en esa línea, no… De algún modo Ratzinger, al colocarse en sede impedida, ha deslegitimado a toda esta nueva Iglesia que no es la verdadera.

—Me gusta mucho esa idea que dices de liquidez que vacía el significado de ser católico, de pensar como católico.
—Claro, la nueva Iglesia liberal progresista de Bergoglio es una Iglesia líquida, es una Iglesia fluida, es una Iglesia que se modela a la manera de las demandas del mercado. Es la Iglesia del misericordismo: la misericordia se transforma en una especie de perdón universal de todo y de todos y de un amor universal que, sin embargo, vacía de contenido todo. Bergoglio, en un texto suyo muy conocido, la encíclica Fratelli tutti, vuelve a proponer el amor cosmopolita, lo que el viejo Hegel definía como «el latido por la humanidad», la etapa del alma bella que ama al mundo. Pero amar al mundo significa no amar a nadie, porque el amor va siempre, como he tratado de decir en mi libro El nuevo orden erótico. Elogio del amor y de la familia, del nombre propio al nombre propio, nunca puede ser amor por lo universal.

—En el Evangelio, de hecho, no se habla de amor universal, «a la humanidad»; se habla de amor al prójimo.
—Ciertamente, el pensamiento cosmopolita entiende al prójimo como al «otro», pero no es así, en latín proximus quiere decir lo que está más cerca de mí. Así que el amor es para el más cercano, no para el «otro». El discurso cosmopolita liberal también en esto es perfectamente compatible con el de la nueva Iglesia de Bergoglio, porque propone renunciar a amar a quien está más cerca para abrirnos al «otro»; es decir, de algún modo, nos pide renunciar a lo particular para abrirnos a lo universal abstracto. Pero nosotros sabemos que es ley de vida que amemos antes que nada a nuestro hijo, a nuestra esposa, a nuestro padre, a nuestro amigo, a nuestro conciudadano y, después, al que está más distante. El discurso cosmopolita nos pide amar una cultura universal, la humanidad en abstracto, con el único objetivo de crear indiferencia hacia quien está más cerca: este es el engaño del discurso cosmopolita. Ya Jean-Jacques Rousseau en el Emilio decía que amar a la humanidad es sólo la coartada para no interesarse por tu propio vecino.

—Porque amar la humanidad como tal es amar una idea; y es siempre más fácil amar una idea que amar a la persona que está a tu lado.
—De hecho, para Hegel, que cuestionaba el cosmopolitismo ilustrado, lo universal es siempre lo universal concreto. El universal humano existe concretamente en las culturas y en los pueblos. Por lo tanto, somos humanos en la medida en que tenemos un idioma, somos parte de una cultura, de un pueblo, y esto nos permite entender el engaño de la Unión Europea. La Unión Europea nos pide que renunciemos a nuestra identidad de españoles e italianos para adherirnos a la cultura europea universal. Pero la cultura europea no existe sino como cultura italiana, española, francesa o alemana. Es un universal concreto.

—Culturas ligadas entre sí…
—Sí, por su relación. Y, por tanto, el discurso de Bergoglio también en esto parece cooperar con esta fluidez cosmopolita, como en muchos otros temas. Si ya no hay valores absolutos, todo se vuelve relativo. Si ya no hay verdad, tampoco es posible cuestionar la falsedad, y por tanto el poder.»

16/01/2024

O “ateísmo líquido” de Francisco (3) | El “ateísmo líquido” de Francisco (3)


Excertos da entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, acerca da publicação do seu livro "O fim do cristianismo".

«— Então, qual era o plano de Ratzinger? Exercer esse papel, durante anos, e desaparecer depois, deixar a Igreja com sede vacante. Não é um plano um tanto louco, vindo de um teólogo e de um papa com certo peso?
— Para responder a essa perginta, seguirei os passos de Pier Paolo Pasolini, que é um dos autores mais citados no meu livro O fim do cristianismo. Porque Pasolini tinha compreendido a importância do sagrado, e que a civilização do consumo, desapiedadamente ateia e materialista, odeia o sagrado. Num texto muito belo, de 1973, intitulado O louco slogan dos blue jeans, refere-se a um anúncio, aparecido por essa altura em Itália, onde se mostrava o corpo de uma mulher com uns jeans e a frase "Não terás outros jeans diante de mim", a qual era uma profanação [por tratar-se da paráfrase do mandamento bíblico do Sinai, "Não terás outros deuses diante de mim"]. A Igreja protestou e acabaram por retirar esse anúncio.
O que Pasolini explica, no citado artigo, é que esse anúncio é apenas o início da luta entre o capitalismo e o cristianismo. Porque, apesar do cristianismo poder chegar a acordo com outras formas de poder, com a civilização do capitalismo hedonista total, o que eu designo por turbocapitalismo, esse acordo, pelo contrário, não é possível: a sociedade do capital evaporará a religião. E, portanto, dizia Pasolini, a Igreja tem duas possibilidades: a primeira consiste em voltar a ser a Igreja das origens, essa catacumba contra o poder capitalista, que era o que ele sonhava. Hoje poderíamos encontrar, na figura do papa, se ele soubesse renunciar a ser um homem do poder, um ponto de apoio para a nossa luta contra o poder.

— Um aliado...
— Um aliado, um líder contra o capitalismo. A segunda opção actual da Igreja, dizia Pasolini, é aceitar a sociedade de consumo, o que a dissolverá nessa sociedade de consumo e fará com que se suicide — ele mesmo utilizava esta expressão: "suicidar-se". Pois bem, creio que a Igreja de Bergoglio está a suicidar-se na sociedade de consumo. A de Ratzinger, pelo contrário, converte-se hoje num pequeno rebanho quase semiclandestino, que se organiza, e não cede. Em Itália há vários movimentos que se opõem à nova Igreja de Bergoglio e, portanto, o cristianismo verdadeiro, o de Ratzinger, encontra-se hoje na oposição ao poder financeiro e liberal progressista. Ratzinger já o teorizou há anos. Existe um programa de rádio onde Ratzinger, em 1969, já afirma: «Imagino um futuro em que os sacerdotes se converterão em assistentes sociais e já não restará nada do cristianismo». Precisamente então, um pequeno remanescente, como lhe chamava, um pequeno rebanho poderá constituir o novo núcleo de uma comunidade que quererá agradar a Deus e não ao mundo. E que, por isso, entrará em conflito com o mundo.

— Essa intervenção radiofónica será publicada no livro Fé e futuro?
— Sim. Por isso, a ideia é que Ratzinger, com o seu gesto de 2013, separou uma Igreja autêntica, a que gosta de agradar a Deus e não ao mundo, a do pequeno remanescente, frente a uma nova Igreja liberal progressista que quer agradar ao mundo, e não a Deus. Nos discursos de Bergoglio não há realmente nada transcendente, e ao escutá-lo tanto parece o expoente de um partido liberal progressista que fala de portos abertos e de abertura comercial, como o operador de uma ONG que fala sobre como acolher os imigrantes. E o capitalismo não quer acolher, o que quer é explorar os recém-chegados, como Marx já tinha percebido...

— Quer abrir as fronteiras para dispor de seres humanos mais facilmente exploráveis.
— Braços a baixo custo. É então que Bergoglio parece um guarda florestal, quando fala da Amazónia, dos problemas verdes, da "economia verde", mas nunca há o discurso sobre Deus, enquanto, pelo contrário, em Ratzinger havia continuamente esta centralidade do divino. Creio que existe uma inimizade entre o capitalismo e a religião da transcendência, por muitas razões. Porque, para um cristão, Deus está nos céus e não no mercado, o sagrado não está à venda.»


* * * * *

Extractos de la entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, sobre la publicación de su libro "El fin del cristianismo".

«—Entonces, ¿cuál era el plan de Ratzinger? Ejercer ese papel, durante años, y luego desaparecer, dejar una Iglesia con sede vacante. ¿No es un plan un poco loco viniendo de un teólogo y de un papa de cierto peso?
—Para responder a esa pregunta seguiré los pasos de Pier Paolo Pasolini, que es uno de los autores más citados en mi libro El fin del cristianismo. Porque Pasolini había comprendido la importancia de lo sagrado y que la civilización despiadadamente atea y materialista del consumo odia lo sagrado. En sus películas y escritos siempre está la idea de la sociedad burguesa sin lo sagrado. En un texto muy bello de 1973, titulado El loco eslogan de los blue jeans, se refiere a un anuncio que había aparecido en esos años en Italia, donde se mostraba el cuerpo de una mujer con unos jeans y el eslogan No tendrás más vaqueros que yo, lo cual era una forma de profanación [por tratarse de una paráfrasis del mandato bíblico del Sinaí, «No tendrás más Dios que yo»]. La Iglesia se opuso y acabaron retirando ese anuncio.
Lo que Pasolini explica en el citado artículo es que ese anuncio es solo el comienzo de la lucha entre el capitalismo y el cristianismo. Porque mientras que el cristianismo puede llegar a un acuerdo con otras formas de poder, en cambio con la civilización del capitalismo hedonista total, lo que yo lo llamo el turbocapitalismo, el acuerdo no es posible: la sociedad del capital evaporará la religión. Y, por tanto, decía Pasolini, la Iglesia tiene dos posibilidades: la primera consiste en volver a ser la Iglesia de los orígenes, esa catacumba contra el poder capitalista, que era lo que él soñaba. Hoy podríamos encontrar, en la figura del papa, si supiera renunciar a ser un hombre del poder, un punto de apoyo para nuestra lucha contra el poder.

—Un aliado…
—Un aliado, un líder contra el capitalismo. La segunda opción actual de la Iglesia, decía Pasolini, es aceptar la sociedad de consumo, lo que la disolverá en tal sociedad de consumo y hará que se suicide —él mismo usaba esta expresión: "suicidarse"—. Y bien, creo que la Iglesia de Bergoglio se está suicidando en la sociedad de consumo. La de Ratzinger, en cambio, se convierte hoy en un pequeño rebaño casi semiclandestino, que se organiza, no cede. En Italia hay varios movimientos que se oponen a la nueva Iglesia de Bergoglio y, por tanto, el cristianismo verdadero, el de Ratzinger, hoy se encuentra en la oposición al poder financiero y liberal progresista. Ratzinger ya lo teorizó hace años. Hay un programa de radio donde Ratzinger, en 1969, ya afirma: «Me imagino un futuro en el que los sacerdotes se convertirán en asistentes sociales y ya no habrá nada del cristianismo». Precisamente entonces, un pequeño resto, lo llamaba, un pequeño rebaño podrá constituir el nuevo núcleo de una comunidad que querrá agradar a Dios y no al mundo. Y que, por ello, entrará en conflicto con el mundo.

—Esa intervención radiofónica luego se publicará en el libro Fe y futuro, ¿no?
—Cierto. Por tanto, la idea es que Ratzinger, con su gesto de 2013, separó una Iglesia auténtica, a la que le gusta agradar a Dios y no al mundo, la del pequeño resto, frente a una nueva Iglesia liberal progresista que quiere agradar al mundo y no a Dios. En los discursos de Bergoglio realmente no hay nada trascendente, si lo escuchas hablar parece o el exponente de un partido liberal progresista que habla de puertos abiertos y de apertura comercial, o el operador de una ONG que habla de cómo acoger a los inmigrantes. Y el capitalismo no quiere acoger, lo que quiere es explotar a los recién llegados como Marx ya había entendido…

—Quiere abrir las fronteras para disponer de seres humanos más fácilmente explotables.
—Brazos a bajo coste. Y luego Bergoglio parece un guardia forestal, cuando habla de la Amazonía, de los problemas verdes, de la «economía verde», pero nunca hay el discurso sobre Dios, mientras que en cambio en Ratzinger había continuamente esta centralidad de lo divino. Creo que hay una enemistad entre el capitalismo y la religión de la trascendencia por muchas razones. Porque para un cristiano Dios está en los cielos y no en el mercado, lo sagrado no está a la venta.»

09/01/2024

O “ateísmo líquido” de Francisco (2) | El “ateísmo líquido” de Francisco (2)


Excertos da entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, acerca da publicação do seu livro "O fim do cristianismo".

«— Creio que estamos plenamente de acordo sobre Ratzinger, não é verdade? Assim, voltemos a Bergoglio. É óbvia a diferença entre ambos, até existem filmes sobre essa distância entre os dois papas. Mas não lhe parece exagerado considerar que um papa, neste caso Francisco, não defenda ou não pense que Deus seja verdadeiro?
— É uma tese forte mas apoiada, penso, pelos discursos de Bergoglio. Nestes discursos, quem é o bom cristão? Essa é a pergunta. Sob um ponto de vista clássico, o bom cristão é aquele que crê nas razões do eterno e do divino, e comporta-se como tal na terra. Também pode ser um bom inimigo do poder porque, como dizia São Tomás de Aquino, se a lei terrena se opõe à lei divina, é preciso opor-se ao poder. Com o tiranicídio, por exemplo.
No meu entender, o bom cristão, na nova Igreja liberal progressista de Bergoglio, é o bom consumidor. A fé de Bergoglio, e da nova Igreja liberal progressista, é uma fé de baixo custo. Para ser bom cristão deve-se acreditar na globalização capitalista, deve-se estar contra o soberanismo e o populismo, deve-se estar a favor dos portos abertos à imigração massiva. Ou seja, é a mesma mensagem da globalização neoliberal, mas situada no âmbito teológico. Assim, a Igreja de Bergoglio converte-se num megafone do pensamento único, política e teologicamente correcto. No meu livro, Fim do cristianismo, digo que Bergoglio faz «uma teologia com o martelo» [um eco do nietzschiano «filosofar com o martelo»]: destrói todos os fundamentos do cristianismo e propõe o que poderíamos chamar «uma religião da banalidade», sem transcendência, sem referências a Jesus e à divindade, sem referências ao eterno. A quem se destina o inferno, segundo Bergoglio? Se Bergoglio acredita no inferno, este é para os populistas, para os soberanistas, para os socialistas, para quem se opõe à globalização neoliberal.

— É curioso o que diz, porque Bergoglio é acusado de ser populista, talvez pela sua origem argentina.
— O populismo de Bergoglio esvazia a Igreja de Roma e abre-a ao mundo. Bergoglio, para utilizar uma linguagem bíblica, negligencia as ovelhas do seu próprio rebanho para recuperar as que estão fora. Bergoglio nunca fala aos cristãos; fala sempre aos ateus, aos muçulmanos, às religiões pagãs. Como resultado, não traz novas ovelhas ao rebanho e, pelo contrário, deixa sair as que tem. A ideia de Bergoglio é cumprir o Concílio Vaticano II, abrir o cristianismo ao mundo para o conquistar; mas, na realidade, ao abrir-se ao mundo, o cristianismo perde-se nele, evapora-se, dissolve-se e, no final, temos a «teologia da banalidade e do nada» de Bergoglio. Que, na verdade, na minha opinião, nunca foi papa; o papa era Ratzinger.

— Isso remete para um movimento tradicionalista radical, que acredita estarmos numa espécie de sede vacante, que o trono papal está vacante.
— Não sou católico, nem tradicionalista, sou um hegeliano que reconhece a mensagem verdadeira da religião. Estou de acordo com os que defendem a tese segundo a qual Ratzinger era o único papa, porque em 2013 não renunciou a ser o papa: renunciou a exercer o papel de papa. Se um advogado renunciar a exercer o seu papel, continua a ser advogado, e se há necessidade de outros advogados, eles serão nomeados.
Mas se um papa renunciar ao seu papel, continua a ser papa e, enquanto for vivo, não podem nomear outro. Por isso, de 2013 a 2022, Ratzinger era o único papa, não com sede vacante mas com sede impedida: ou seja, ele era o papa, e a sede vacante só se iniciou em 31 de Dezembro de 2022. Se Ratzinger renunciou a ser papa, porque continuou a vestir-se como um papa?

— E continuavam a chamar-lhe papa, não é verdade?
— E porque assinava como Bento XVI? Porque exibia as insígnias heráldicas? Na história da Igreja, Celestino V, quando deixa de ser papa, já não se chama Celestino V, regressa a Abruzo e abandona. Ratzinger, pelo contrário, continua a ser Bento XVI; porquê? A minha tese é que Ratzinger, em termos de direito canónico, renunciou ao ministerium mas não ao munus, ou seja, renunciou a exercer o papel de papa, mas não a ser papa. E fê-lo precisamente para impedir a deriva liberal progressista da Igreja: deu um passo ao lado, não um passo atrás.

— Mas ao fazer isso tinha menos poder para se opor.
— Sim, mas ele já não podia exercer o seu papel de papa. Tinha contra si não só o poder financeiro, mas sobretudo as forças liberais progressistas, que tramavam um primavera árabe no Vaticano para substituir aquele que chamavam «o terrorista branco», ou seja, Ratzinger. A própria Igreja estava animada por impulsos liberais progressistas. Assim, não houve dois papas entre 2013 e 2022; havia um papa, Ratzinger, e um antipapa, Bergoglio. É preciso sublinhar que muitos tentaram dizer que eles se davam bem, que eram amigos, que tinham a mesma visão, mas não é verdade. Tanto é assim que o mesmo sistema mediático que celebrava Bergoglio como uma estrela, é o mesmo que ladrava continuamente contra Ratzinger. Ratzinger era odiado, e ainda o é na sua memória, pelo sistema mediático.»

* * * * *
Extractos de la entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, sobre la publicación de su libro "El fin del cristianismo".

«—Creo que estamos muy de acuerdo sobre Ratzinger, ¿no? Así que volvamos a Bergoglio. Es obvia la diferencia entre ambos, incluso hay películas sobre esa distancia entre los dos papas. Ahora bien, ¿no crees que resulta exagerado considerar que un papa, en este caso Francisco, no defiende o no piensa que Dios sea verdad?
—Es una tesis fuerte, pero apoyada a mi juicio por los discursos de Bergoglio. ¿En estos discursos quién es el buen cristiano? Esa es la pregunta. Desde un punto de vista clásico, el buen cristiano es quien cree en las razones de lo eterno y de lo divino y se comporta consecuentemente en la tierra. También puede ser un buen enemigo del poder porque, como decía santo Tomás de Aquino, si la ley terrena se opone a la ley divina, hay que oponerse al poder. Con el tiranicidio, por ejemplo.
A mi juicio, el buen cristiano en la nueva Iglesia liberal progresista de Bergoglio es el buen consumidor. La de Bergoglio y la nueva Iglesia liberal progresista es una fe de bajo coste. Para ser un buen cristiano debes creer en la globalización capitalista, debes estar en contra del soberanismo y del populismo, debes estar a favor de los puertos abiertos a la inmigración masiva. Es decir, es el mismo mensaje de la globalización neoliberal, pero situado en el ámbito teológico. Así, la Iglesia de Bergoglio se convierte en un megáfono del pensamiento único política y teológicamente correcto. En mi libro, Fin del cristianismo, digo que Bergoglio hace «una teología con el martillo» [eco del nietzscheano «filosofar con el martillo»]: destruye todos los fundamentos de la cristiandad y propone la que podríamos llamar «una religión de la banalidad», sin trascendencia, sin referencias a Jesús y a la Divinidad, sin referencias a lo eterno. ¿Para quién es el infierno, según Bergoglio? Creo que si para Bergoglio hay infierno, lo hay para los populistas, para los soberanistas, para los socialistas, para quien se opone a la globalización neoliberal.

—Es curioso lo que dices porque a Bergoglio se le acusa de ser populista, un poco por su origen argentino.
—El populismo de Bergoglio vacía la Iglesia de Roma y la abre al mundo. Bergoglio, por usar una imagen bíblica, se despreocupa de las ovejas de su propio rebaño para ir a recuperar las que están fuera. Bergoglio nunca habla a los cristianos, habla siempre a los ateos, a los musulmanes, a las religiones paganas. Con el resultado de que no trae nuevas ovejas al rebaño y, en cambio, deja salir a las que tiene. La idea de Bergoglio lleva al cumplimiento el Concilio Vaticano II, la de abrir el cristianismo al mundo para conquistar el mundo; pero, en realidad, abriéndose al mundo, el cristianismo se pierde en el mundo, se evapora, se disuelve y al final tenemos la «teología de la banalidad y de la nada» de Bergoglio. Que, por cierto, en mi opinión, nunca fue papa; el papa era Ratzinger.

—Eso conecta con un movimiento tradicionalista radical, que piensa que estamos en una especie de sedevacantismo, que el asiento papal está vacante.
—No soy católico, ni tradicionalista, soy un hegeliano que reconoce el mensaje verdadero de la religión. Estoy de acuerdo con los que defienden la tesis según la cual Ratzinger era el único papa, porque en 2013 no renunció a ser el papa: renunció a ejercer el papel de papa. Si eres abogado y renuncias a ejercer el papel de abogado, sigues siendo abogado, y si hay necesidad de otros abogados nombrarán a otros.
Pero si eres el papa y renuncias a ejercer el papel de papa sigues siendo el papa, y no pueden, mientras vivas, nombrar uno nuevo. Por eso, de 2013 a 2022, Ratzinger era el único papa, pero no con sede vacante, sino con sede impedida: es decir, él era el papa, y la sede está vacante solo desde el 31 de diciembre de 2022. ¿Por qué, si Ratzinger renunció a ser el papa, siguió vistiéndose como el papa?

—Y le seguían llamando papa, ¿no?
—¿Y por qué firmaba Benedicto XVI? ¿Por qué exhibía las insignias heráldicas? En la historia de la Iglesia, Celestino V, cuando deja de ser papa, ya no se llama Celestino V, vuelve a los Abruzos y abandona. Ratzinger, en cambio, sigue siendo Benedicto XVI, ¿por qué? Mi tesis es que Ratzinger, en términos de derecho canónico, ha renunciado al ministerium pero no al munus, por tanto ha renunciado a ejercer el papel de papa, pero no a ser el papa. Y lo hizo precisamente para impedir la deriva liberal progresista de la Iglesia: dio un paso al lado, no un paso atrás.

—Pero haciendo eso tenía menos poder para oponerse.
—Sí, pero él ya no podía ejercer su papel de papa. Tenía en contra no solo al poder financiero, sino sobre todo a las fuerzas liberales progresistas, que tramaban una primavera árabe en el Vaticano para sustituir al que llamaban «el terrorista blanco», es decir, Ratzinger. La Iglesia misma estaba animada por pulsiones liberales progresistas. Así que no hubo dos papas entre 2013 y 2022, había un papa Ratzinger y un antipapa Bergoglio. Hay que destacar que muchos han intentado decir que en realidad se llevaban bien, que eran amigos, que tenían la misma visión, pero no era cierto. Tanto es así que el mismo sistema mediático que celebraba a Bergoglio como una estrella, es el que ladraba continuamente contra Ratzinger. Ratzinger era odiado y todavía lo es en la memoria por el sistema mediático.»

02/01/2024

O “ateísmo líquido” de Francisco (1) | El “ateísmo líquido” de Francisco (1)


Excertos da entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, acerca da publicação do seu livro "O fim do cristianismo".

«— O seu último livro tem por título O fim do cristianismo. A morte de Deus em tempos de mercado global e do papa Francisco. Como se relacionam todos estes pontos?
— A ideia que desenvolvo no livro é, basicamente, que estamos a viver o fim do cristianismo. Chamo-lhe a evaporação do cristianismo. A civilização do consumo, da técnica, das finanças, criou uma verdadeira inimizade relativamente ao cristão e à religião da transcendência que, na Europa é, obviamente, o cristianismo. E chego à conclusão que, no presente, este se está a evaporar e que a Igreja de Bergoglio representa, na substância, o momento culminante desta evaporação. Enquanto a Igreja de Ratzinger tinha tentado resistir, opor-se, defender as razões da transcendência e, portanto, entrou em conflito com a civilização dos mercados, a Igreja de Bergoglio é cristianismo evaporado, é o pensamento único da globalização expressado em teologia.

— Em que pontos detecta esse confronto entre Ratzinger e Bergoglio?
— Seria suficiente comparar os discursos, as homilias, as encíclicas dos dois papas. Em Ratzinger encontramos continuamente reafirmada a transcendência, o eterno, a abertura do espírito às dimensões mais elevadas. Em Bergoglio encontramos um cerramento integral à transcendência. Nos discursos de Bergoglio nunca se fala de Deus, da alma, do sagrado.

— Mas a palavra "Deus" aparece, e muitas vezes.
— Sim, aparece, mas é o que designo, no livro, com uma fórmula que tomo livremente de Zygmunt Bauman, como ateísmo líquido. Em que consiste este ateísmo? Não se trata já do ateísmo de quem diz «Deus não existe e vou demonstrá-lo». O ateísmo líquido é indiferente ao problema de Deus. Hoje em dia, a maioria dos europeus não são ateus, são ateus líquidos nesta acepção.

— E Ratzinger fez precisamente o contrário, certo?
— Certamente que Ratzinger, apresentado geralmente como uma figura reaccionária e, de algum modo, amiga do poder, na realidade, precisamente porque defendia a tradição, o sagrado e a transcendência, entrava em conflito com um poder liberal progressista que já não quer a transcendência, a tradição e as identidades. Ratzinger teorizou-o, porque expressou em várias passagens das suas obras, mesmo antes de se tornar papa em 2005, que o cristão, hoje, se encontra na oposição ao mundo e ao poder. Assim, em Ratzinger, encontramos a ideia de uma Igreja que quer agradar a Deus e não ao mundo, que quer agradar à verdade e não à ditadura do relativismo.

— Ratzinger é também defensor não só da transcendência, como da razão. A razão que vem da nossa herança, neste caso mais grega que a especificamente hierosolimitana. E, portanto, neste sentido, muito aberto também, como filósofo e como papa, a um termo que nos poderia parecer mais bergogliano: diálogo. Não pode haver diálogo sem existir uma razão comum, certo?
— O conceito de diálogo de Ratzinger é um conceito platónico, de diálogo verdadeiro. Dialogo, não porque a verdade não exista e, portanto, é tagarelice, mas dialogo porque a verdade existe e alcançá-la-emos pela confrontação. Com Bergoglio, pelo contrário, é um diálogo pós-moderno e relativista, dialogamos porque a verdade não existe.

— Também é ratzingeriana a teoria dos princípios não-negociáveis. Precisamente o que, segundo ele, é mais importante para uma democracia, para um projecto político democrático sob um ponto de vista cristão, é ter princípios não-negociáveis que caracterizem a proposta do cristão no espaço público.
— Diz-se frequentemente que o relativismo é a base da democracia, mas é falso. A base da democracia é a verdade. Ratzinger defendeu não só a fé, como também a razão. É errónea a confrontação que se faz, hoje em dia, entre razão e fé. Hoje, a razão e a fé devem estar juntas contra a civilização niilista das finanças e dos mercados.
Ratzinger sempre defendeu a aliança da razão e da fé. No seu discurso de Ratisbona, em 2006, disse uma coisa importantíssima: uma fé que se oponha à razão, não é fé. Mas disse também que uma razão que não aceita a fé converte-se em totalitarismo, e o totalitarismo actual é o da tecnociência e das finanças.»

* * * * *
Extractos de la entrevista de Miguel Ángel Quintana Paz a Diego Fusaro, sobre la publicación de su libro "El fin del cristianismo".

«—Tu último libro lleva por título El fin del cristianismo. La muerte de Dios en tiempos del mercado global y del papa Francisco. ¿Cómo conectas todos estos puntos?
—La idea que desarrollo en el libro es básicamente que estamos viviendo el final del cristianismo. Lo llamo la evaporación del cristianismo. La civilización del consumo, de las técnicas, de las finanzas, ha creado una verdadera enemistad con respecto a lo cristiano y la religión de la trascendencia, que en Europa, por supuesto, es el cristianismo. Y llego a la conclusión de que hoy este se está evaporando y que la Iglesia de Bergoglio representa en sustancia el momento culminante de esta evaporación. Mientras la Iglesia de Ratzinger había intentado resistir, oponerse, defender las razones de la trascendencia y, por lo tanto, había entrado en conflicto con la civilización de los mercados, la Iglesia de Bergoglio es cristianismo evaporado, es el pensamiento único de la globalización expresado en teología.

—¿En qué puntos detectas esta confrontación entre Ratzinger y Bergoglio?
—Sería suficiente comparar los discursos, las homilías, las encíclicas de los dos papas. En Ratzinger encontramos continuamente reafirmada la trascendencia, lo eterno, la apertura del espíritu hacia dimensiones más altas. En Bergoglio encontramos un cierre integral a la trascendencia. En los discursos de Bergoglio nunca se habla de Dios, del alma, de lo sagrado.

—Pero la palabra «Dios» sí aparece, y a menudo.
—Sí, aparece, pero es lo que yo en el libro, con una fórmula que tomo libremente de Zygmunt Bauman, llamo el ateísmo líquido. La Iglesia de Bergoglio es la del ateísmo líquido. ¿En qué consiste este ateísmo? No se trata ya del ateísmo de quien dice «Dios no existe y os muestro por qué». El ateísmo líquido es indiferente al problema de Dios. Hoy en día la mayoría de los europeos no son ateos, son ateos líquidos en esta acepción.

—Y Ratzinger precisamente ha hecho todo lo contrario, ¿no?
—Ciertamente Ratzinger, que es presentado por lo general como una figura reaccionaria y, de alguna manera, amiga del poder, en realidad, precisamente porque defendía la tradición, lo sagrado y la trascendencia, entraba en conflicto con un poder liberal progresista que ya no quiere la trascendencia, la tradición y las identidades. Ratzinger lo ha teorizado porque ha expresado en varios pasajes de sus obras, incluso antes de ser papa en 2005, que el cristiano hoy se encuentra en la oposición al mundo y al poder. Así que en Ratzinger encontramos la idea de una Iglesia que quiere agradar a Dios y no al mundo, que quiere agradar a la verdad y no a la dictadura del relativismo.

—Ratzinger es también defensor no solo de la trascendencia, sino de la razón. La razón que viene de nuestra herencia, en este caso más griega que la específicamente hierosolimitana. Y, por tanto, en este sentido también muy abierto como filósofo y como papa a un término que nos podría parecer más bergogliano: diálogo. No puede haber diálogo si no hay una razón común, ¿no?
—El concepto de diálogo de Ratzinger es un concepto platónico, de diálogo verdadero. Dialogo, no porque no haya verdad y por lo tanto nos echemos una charleta, sino que dialogo porque hay verdad y la alcanzamos mediante la confrontación. El de Bergoglio, en cambio, es un diálogo postmoderno y relativista, dialogamos porque no hay verdad.

—También es una teoría ratzingeriana la de los principios no negociables. Precisamente lo que, según él, es importante para una democracia, para un proyecto político democrático desde un punto de vista cristiano, es tener principios no negociables que caractericen tu propuesta como cristiano en el espacio público.
—A menudo se dice que el relativismo es la base de la democracia, pero es falso. La verdad es la base de la democracia. Ratzinger defendió no sólo la fe, sino que defendió la razón. Es errónea la confrontación que hoy se hace entre razón y fe. Hoy la razón y la fe deben estar juntas contra la civilización nihilista de las finanzas y de los mercados.
Ratzinger siempre ha defendido la alianza de razón y fe. En su discurso de Ratisbona de 2006 dijo una cosa importantísima: una fe que se oponga a la razón, no es fe. Pero también dijo que una razón que no acepta la fe se convierte en totalitarismo, y el totalitarismo actual es el de la tecnociencia y de las finanzas.»