Crónicas do Grande Despertar | Crónicas del Gran Despertar

29/01/2023

Queridos jihadistas | Queridos yihadistas



«Queridos jihadistas:
Cavalgando os vossos elefantes de ferro e fogo, entrastes com fúria na nossa loja de porcelanas. Mas é uma loja de porcelanas cujos proprietários, desde há muito tempo, se propuseram fazer em cacos tudo o que ali estava atesourado. Mais ainda, sobrevivem só com esse fim. Vós os perturbastes. Sois os primeiros demolidores a atacar os destruidores; os primeiros bárbaros a juntar-se aos vândalos; os primeiros incendiários a competir com os pirómanos. Esta situação é original. Mas, ao contrário das nossas, as vossas demolições efectuam-se na total ilegalidade e por isso têm uma rejeição quase unânime. Nós preparámos as nossas tortuosas inovações entre o entusiasmo geral e a felicidade mais transbordante.

Nada nos impedirá de continuar a acusar-vos de pertencer ao campo dos nostálgicos de uma ordem orgânica e comunitária onde o indivíduo não é dono de si mesmo, frente à nossa sociedade de indivíduos autónomos, responsáveis e solidários.
E desde já vos avisamos que venceremos porque somos os mais débeis. Temei a fúria dos cordeiros. Temei a cólera das ovelhas enfurecidas.
Adormeceis nas delícias do martírio, mas é muito mais fácil morrer por um Deus do que sobreviver-lhe. A saída da fé é um caminho duro no qual aprendemos coisas que vós ainda ignorais. Sobre esse caminho incerto, adquirimos uma confiança que vos assombrará. O furor que demonstraremos em resistir-vos deixar-vos-á estupefactos. Temei o ódio do homem de bermudas. Temei a cólera do consumidor, do viajante, do turista, daquele que desce da auto-caravana. Imaginais que os nossos prazeres e os nossos ócios nos tornaram brandos. Pois bem, lutaremos como leões para proteger a nossa indolência.

Lutaremos pelas nossas comunidades comunitaristas, pelas nossas tribos tribais, pelas nossas reivindicações reivindicativas e por todos os nossos estudantes em rebelião que valem muito mais que os vossos estudantes de religião.
Lutaremos por tudo, pelas palavras que já não têm sentido e pela vida que vai com elas. Lutaremos pela ordem mundial caritativa e pelo bom relacionamento. Lutaremos pela vida jovem e pelas artes alternativas.
Lutaremos pelas nossas agências de viagens, pelas nossas companhias aéreas, pelas nossas cadeias hoteleiras, pelos nossos fornecedores de serviços, pelas nossas páginas web e pelos nossos "tudo incluído".
Lutaremos pelo nosso Deus único, que tem a forma de um projector que ilumina um estúdio de televisão.
Lutaremos sem fim, porque o fim já chegou há muito tempo, e nem sequer nos recordamos dele. Lutaremos pelo prazer de até ter esquecido o nosso fim.
Lutaremos pela desaparição da linguagem articulada.
E venceremos. Evidentemente. Porque somos os mais mortos.»

* * * * *
«Queridos yihadistas:
Cabalgando en vuestros elefantes de hierro y fuego, habéis entrado con furia en nuestra tienda de porcelana. Pero es una tienda de porcelana cuyos propietarios, desde hace mucho tiempo, se propusieron hacer añicos todo lo que había allí atesorado. Es más, sobreviven sólo para eso. Vosotros los habéis perturbado. Sois los primeros demoledores que atacan a los destructores; los primeros bárbaros que la toman con los vándalos; los primeros incendiarios que compiten con los pirómanos. Esta situación es original. Pero, a diferencia de las nuestras, vuestras demoliciones se efectúan en total ilegalidad y así se atraen una repulsa casi unánime. Mientras que nosotros ponemos a punto nuestras tortuosas innovaciones entre el entusiasmo general y la felicidad más pimpante.

Nada nos impedirá continuar acusándoos de pertenecer al campo de los nostálgicos de un orden orgánico y comunitario donde el individuo no se pertenece, frente a nuestra sociedad de individuos autónomos, responsables y solidarios.
Os advertimos de que venceremos porque somos los más débiles. Temed la furia de los corderos. Temed la cólera de las ovejas enfurecidas.
Os adormecéis en las delicias del martirio, pero es mucho más fácil morir por un Dios que sobrevivirle. La salida de la fe es un duro sendero en el cual nosotros hemos aprendido cosas que vosotros todavía ignoráis. Sobre ese camino incierto, hemos adquirido una confianza que os asombrará. El furor que pondremos para resistiros os dejará estupefactos. Temed el odio del hombre en bermudas. Temed la cólera del consumidor, del viajero, del turista, de aquél que desciende de su caravana de camping. Os imagináis que nuestros placeres y nuestros ocios nos han ablandado. ¡Pues bien!, lucharemos como leones para proteger nuestra molicie.

Lucharemos por nuestras comunidades comunitaristas, por nuestras tribus tribales, por nuestras reivindicaciones reivindicativas y por todos nuestros estudiantes en rebelión que valen de lejos vuestros estudiantes en religión.
Lucharemos por todo, por las palabras que ya no tienen sentido y por la vida que va con ellas. Lucharemos por el orden mundial caritativo y por el buen rollito. Lucharemos por la vida joven y por las artes alternativas.
Lucharemos por nuestros tour-operadores, por nuestras compañías aéreas, por nuestras cadenas hoteleras, por nuestros proveedores de servicios, por nuestras páginas web y por nuestros “todo incluido”.
Lucharemos por nuestro Dios único, que tiene la forma de un proyector encendido sobre un plató de televisión.
Lucharemos sin fin, porque el fin llegó hace ya tiempo, y ni siquiera nos acordamos de ello. Lucharemos por el placer de hasta haber olvidado nuestro propio fin.
Lucharemos por la desaparición del lenguaje articulado.
Y venceremos. Evidentemente. Porque somos los más muertos.»

24/01/2023

A era da vitimização (e 3) | La era de la victimización (y 3)



«E é então quando, mediante um deslize semântico, se passa à “vítima identitária” (vítimas de guerras ou conflitos passados, vítimas da colonização, vítimas do racismo, vítimas do heteropatriarcado, vítimas do fascismo e do nazismo – mas não do comunismo, curiosamente), e quando uma identidade subjectiva que se sente alterada por um facto contrário à percepção pessoal do seu estatuto, seja por referência a um facto histórico ou contemporâneo, acaba por se unir a todos quantos se “sentem” vítimas pelo mesmo motivo, numa construção quase mitogénica – que praticamente funda uma pseudociência da vitimologia – dos traumatismos (e suas consequências) experimentados por um grupo cuja imagem é transmitida, sem descontinuidade, desde os seus antepassados aos seus descendentes. Entramos assim numa autêntica “concorrência vitimista”, ou seja, na vontade, comum aos presumíveis discriminados, se situar uma determinada causa como uma inegável injustiça que deve ser reparada sem demora, uma incontestável desgraça histórica sem precedentes, um atentado contra os valores e direitos humanos sem paralelo na História, que as sociedades modernas tentam inscrever no vazio dos seus projectos políticos. A funesta consequência, no entanto, é a “banalização das vítimas”, porque, na falta de verdadeiras vítimas da violência ou da injustiça, procuram-se, por todo o lado, pseudovítimas, ainda que estas sejam puramente metafóricas, ou mesmo imaginárias, para submetê-las a um processo de vitimização restauradora. À força de enumerar e assinalar vítimas e pseudovítimas, o próprio termo perde todo o seu sentido original: as vítimas reais são arquivadas sem mais considerações; as presumíveis vítimas, especialmente as identitárias, são elevadas ao nível de “injustiça histórica” e devem ser protegidas com um estatuto especial e satisfeitas em todas as suas reivindicações, mesmo que se trate de “minorias minoritárias” e os seus objectivos não coincidam com o interesse geral nem com o bem comum da sociedade.

As vítimas não só substituíram os heróis, como se está a produzir um inaudito processo de “heroização” das vítimas: hoje, já não são vítimas, são mártires. Por isso se derrubam as estátuas dos heróis e se levantam templos às vítimas.»

* * * * *

«Y es entonces cuando, mediante un deslizamiento semántico, se pasa a la “víctima identitaria” (víctimas de guerras o conflictos pasados, víctimas de la colonización, víctimas del racismo, víctimas del heteropatriarcado, víctimas del fascismo y del nazismo ‒pero no del comunismo, curiosamente), y cuando una identidad subjetiva que se siente alterada por un hecho contrario a la percepción personal de su estatuto, ya sea por referencia a un hecho histórico o contemporáneo, acaba uniéndose a la de todos los que se “sienten” víctimas por el mismo motivo en una construcción casi mitogénica ‒que prácticamente funda una seudociencia de la victimología‒ de los traumatismos (y sus consecuencias) experimentados por un grupo cuya imagen es transmitida, sin discontinuidad, desde sus antepasados a sus descendientes. Entramos así en una auténtica “competencia victimista”, es decir, en la voluntad, común a los presuntos discriminados, de situar una determinada causa como una innegable injusticia que debe ser reparada sin demora, una desgracia histórica incontestable sin precedentes, un atentado contra los valores y derechos humanos sin parangón en la historia, que las sociedades modernas intentan inscribir en sus vacíos proyectos políticos. La funesta consecuencia, sin embargo, es la “banalización de las víctimas”, porque, a falta de verdaderas víctimas de la violencia o de la injusticia, se buscan, por todas partes, seudovíctimas, aunque estas sean puramente metafóricas, incluso imaginarias, para someterlas a un proceso de victimización restauradora. A fuerza de enumerar y señalar a las víctimas y seudovíctimas, el propio término pierde todo su sentido original: las víctimas reales son archivadas sin más trámite; las presuntas víctimas, especialmente las identitarias, son elevadas al rango de “injusticia histórica” y deben ser protegidas con un estatus especial y satisfechas en todas sus reivindicaciones, aunque se trate de “minorías minoritarias” y sus objetivos no coincidan con los intereses generales y el bien común de la sociedad.

Las víctimas no solo han sustituido a los héroes, sino que se está produciendo un inaudito proceso de “heroización” de las víctimas: hoy, ya no son víctimas, son mártires. Por eso se derriban las estatuas de los héroes y se levantan templos a las víctimas.» (El Manifiesto)

23/01/2023

A era da vitimização (2) | La era de la victimización (2)



«Um exemplo perverso da actual era da vitimização resume-se nas aspirações do neofeminismo e da ideologia de género – esses produtos ideológicos fabricados nos laboratórios estado-unidenses –, pensadas presumivelmente para evitar “todas” as discriminações e que se baseiam, precisamente, na discriminação, mediante a sua demonização, da heterossexualidade e das relações binárias entre os dois sexos, em particular quando estas interacções se produzem entre pessoas “brancas” e, sobretudo, quando uma delas é um homem “branco”. Há que proteger as vítimas potenciais, frequentemente imaginárias, desses homens brancos que, indefectivelmente, possuem uma consciência, ainda que não o saibam, fascista, racista, colonialista e machista.

A vítima converteu-se na principal categoria discriminante no seio das nossas sociedades. É o que se denominou como a “era da vitimização”, que se traduz em termos de reconhecimento, tratamento (reparação e compensação) e exploração simbólica, fazendo da vítima uma categoria única na análise sociológica, que se repercute numa reconfiguração das identidades em torno da decadente moral ocidental. Os principais patrocinadores desta nova “lógica vitimista” são as ONGs humanitárias, os grandes magnatas e as suas doações milionárias (leia-se, por exemplo, Soros), mas também os Estados e as Assembleias parlamentares. Todos partilham do “grande relato vitimista”, gerado na mesma ideologia vitimista na qual se opera, na relação entre o indivíduo e a sociedade, uma isenção do primeiro a respeito de qualquer responsabilidade que, simultaneamente, se desvia para um colectivo sem rosto nem personalidade, produzindo assim um reordenamento das relações de confiança, que são um dos princípios básicos da estrutura social. Um exemplo evidente são as chamadas “leis de memória histórica” [relativas à Guerra Civil espanhola]: os heróis são esquecidos, só interessam as vítimas.

Isto deve-se à mudança do estatuto da vítima nas nossas sociedades. Já não se trata, essencialmente, de uma figura com conotações negativas, própria de uma desgraça ou de um destino implacável e impenetrável, o fatum dos Antigos, que considerava a vítima como alguém predestinado, que se encontrava no lugar e no momento inadequados, que, no pior dos casos, era castigada pelas suas acções ou omissões ou, simplesmente, pela ironia do destino. Agora, pelo contrário, procuram-se as razões, as causas, estabelecem-se responsabilidades “humanitárias” pelas quais devem sempre responder alguns indivíduos, grupos ou comunidades, ou os seus descendentes, em termos de reparação, compensação e restabelecimento de uma situação anterior, ainda que seja apenas mediante uma promessa ou uma esperança simbólica. A vítima converte-se assim numa figura central do direito do Estado e dos Tribunais. É indiferente que se trate de uma vítima de um acidente de trânsito ou de um conflito armado, para não falar das vítimas das “causas sociais” (mulheres, imigrantes, homossexuais, animais...). Hoje, a pertença (adquirida ou optada) a uma minoria equivale à consideração passiva como vítima, que deve ser objecto de protecção e indemnização. Assistimos a um movimento de subjectivação da ideia de vítima, enfatizam-se os sentimentos, as percepções, as consciências, situando-se num segundo plano o facto ou acontecimento que causa o dano ou prejuízo (o que, a ser reconhecido, faria dela uma “vítima objectiva”). Ao contrário, faz-se moda da “vítima subjectiva”, o seu sofrimento, as consequências morais e psíquicas provocadas por um acto de violência ou de discriminação, sem valorizar o grau de intencionalidade ou de criminalidade, ou simplesmente de casualidade ou causalidade.»

* * * * *

«Un ejemplo perverso de la actual era de la victimización se resume en las aspiraciones del neofeminismo y de la ideología de género ‒esos productos ideológicos fabricados en los laboratorios estadounidenses‒, pensadas presuntamente para evitar “todas” las discriminaciones y que se basan, precisamente, en la discriminación, mediante su demonización, de la heterosexualidad y de las relaciones binarias entre los dos sexos, en particular cuando estas interacciones se producen entre personas “blancas”, y sobre todo cuando una de ellas es un hombre “blanco”. Hay que proteger a las víctimas potenciales, a menudo imaginarias, de esos hombres blancos que, indefectiblemente, poseen una conciencia, aun sin saberlo, fascista, racista, colonialista y machista.

La víctima se ha convertido en la principal categoría discriminante en el seno de nuestras sociedades. Es lo que se ha denominado como la “era de la victimización”, que se traduce en términos de reconocimiento, tratamiento (reparación y compensación) y explotación simbólica, haciendo de la víctima una categoría única en el análisis sociológico que impacta en una reconfiguración de las identidades en torno a la decadente moral occidental. Los principales valedores de esta nueva “lógica victimista” son las ONG humanitarias, los grandes emprendedores y sus millonarias donaciones (léase, por ejemplo, Soros), pero también los Estados y las Asambleas parlamentarias. Todos comparten el “gran relato victimista” que participa de una misma ideología victimista en la que se opera, en la relación entre el individuo y la sociedad, una exención respecto al primero de cualquier responsabilidad que, simultáneamente se desvía hacia un colectivo sin rostro ni personalidad, produciendo así una reordenación de las relaciones de confianza que son uno de los principios básicos de la estructura social. Un ejemplo evidente son las llamadas “leyes de memoria histórica”: los héroes son olvidados, solo interesan las víctimas.

Esto se debe al cambio de estatuto de la víctima en nuestras sociedades. Ya no se trata, esencialmente, de una figura con connotaciones negativas, propia de una desgracia o de un destino implacable e impenetrable, el fatum de los Antiguos, que consideraba a la víctima como alguien que no había tenido ninguna posibilidad, que se encontraba en el lugar y en el momento inadecuados, que, en el peor de los casos, era castigada por sus acciones o por sus omisiones o, simplemente, por la ironía del destino. Ahora, sin embargo, se buscan las razones, las causas, se establecen responsabilidades “humanitarias” de las que siempre deben responder algunos individuos, grupos o comunidades, o sus descendientes, en términos de reparación, compensación y restablecimiento de una situación anterior, aunque solo sea mediante una promesa o esperanza simbólica. La víctima se convierte así en una figura central del derecho del Estado y de los Tribunales. Es indiferente que se trate de la víctima de un accidente de tráfico o de un conflicto armado, por no hablar de las víctimas de las “causas sociales” (mujeres, inmigrantes, homosexuales, animales…). Hoy, la pertenencia (adquirida o elegida) a una minoría equivale a la consideración pasiva como víctima que debe ser objeto de protección e indemnización. Asistimos a un movimiento de subjetivación de la idea de víctima, se enfatizan los sentimientos, las percepciones, las conciencias, situando en un segundo plano el hecho o acontecimiento que causa el daño o el perjuicio (lo que, de reconocerse, haría de ella una “víctima objetiva”). Por contra, se pone de moda la “víctima subjetiva”, su sufrimiento, las consecuencias morales y psíquicas creadas por un acto de violencia o de discriminación, sin valorar el grado de intencionalidad o de criminalidad, o simplemente de casualidad o de causalidad.»

22/01/2023

A era da vitimização (1) | La era de la victimización (1)




«Alain de Benoist previne-nos de algo insólito: o Gulag e os comissários políticos não desapareceram, contra toda a lógica, mas continuam omnipresentes nas nossas sociedades para impor o “pensamento único” e censurar e perseguir o “pensamento crítico dissidente”. O autor descreve-nos todo um sistema neoinquisitorial técnico-político-judicial-mediático direccionado ao estabelecimento de um totalitarismo soft, uma Nova Ordem moral imposta pela Nova Classe mundial, uma perversa combinação do Panóptico de Jeremy Bentham com o “1984” de George Orwell, num mercado global de mensagens presumidamente democráticas e “transparentes”. Por fim, o autor recorda-nos que “não há nada mais transparente do que o vazio” e, portanto, insta-nos a “continuar a ser opacos”.

Queria insistir num aspecto que Alain de Benoist aborda, de modo algo incidental mas muito certeiro, ao longo do seu livro [A Capa de Chumbo: Uma desconstrução das novas censuras], que me parece muito interessante pelo jogo que decorre no grande universo inquisitorial dos meios de comunicação e (des)informação. Trata-se da “grande substituição” do herói pela vítima, nas nossas sociedades ocidentais. Para Alain de Benoist existem duas causas fundamentais que explicam esta substituição: o descrédito dos valores heróicos e o triunfo da ideologia vitimista, lacrimogénea e exibicionista. Os valores heróicos, desde a perspectiva da ideologia dominante – hedonista, individualista e utilitarista –, são percebidos como algo obsoleto e repulsivo, próprio de uma tradição cultural europeia que deve ser aniquilada. Os heróis são demasiado guerreiros para uma época que aspira à paz universal, demasiado viris para uma época que considera tóxica a masculinidade. As vítimas, pelo contrário, longe de fomentar a sensibilidade e a solidariedade, difundem o sentimentalismo lamechas do humanitarismo através do impacto das imagens audiovisuais: a morte de um herói é um facto circunstancial que se celebra nos seus círculos mais íntimos e privados; a morte da vítima – é indiferente que se trate de uma pessoa, um animal ou um vegetal – é um acontecimento mundial que se retransmite por toda a parte. E desta ideologia vitimista deriva, segundo Alain de Benoist, a “luta contra todas as discriminações”, que consiste em confundir a discriminação (que, na origem, não era mais do que a diferenciação ou separação em graus ou níveis de tratamento) com a injustiça. Há discriminações, por exemplo, perfeitamente justas: um cidadão que beneficia de certos direitos e prerrogativas (como contrapartida das suas obrigações ou encargos, como é evidente) que não se concedem aos não-cidadãos; pelo contrário, há injustiças que não implicam nenhuma discriminação por motivo de raça ou sexo, como as desigualdades sociais, que não derivam da necessidade de um tratamento diferenciado, mas da exploração do trabalho pelo sistema capitalista.»

* * * * *

«Alain de Benoist nos previene de algo insólito: el Gulag y los comisarios políticos, contra toda lógica, no han desaparecido, sino que siguen omnipresentes en nuestras sociedades para imponer el “pensamiento único” y censurar y perseguir el “pensamiento crítico disidente”. El autor nos describe todo un sistema neoinquisitorial técnico-político-judicial-mediático dirigido al establecimiento de un totalitarismo soft, un Nuevo Orden moral impuesto por la Nueva Clase mundial, una perversa combinación del Panóptico de Jeremy Bentham y de 1984 de George Orwell en un mercado global de mensajes presuntamente democráticos y “transparentes”. Al final, el autor nos recuerda que “no hay nada más transparente que el vacío” y, por tanto, nos exhorta a “seguir siendo opacos”.

Quisiera insistir en un aspecto que Alain de Benoist aborda, de manera algo incidental pero muy certeramente, a lo largo de su libro [La Capa de Plomo: Una deconstrucción de las nuevas censuras], pero que me parece muy interesante por el juego que ofrece en el universo inquisitorial de los medios de comunicación y (des)información. Se trata de la “gran sustitución” del héroe por la víctima en nuestras sociedades occidentales. Para Alain de Benoist existen dos causas fundamentales que explican este reemplazo: el descrédito de los valores heroicos y el triunfo de la ideología victimista, lacrimógena y exhibicionista. Los valores heroicos, desde la perspectiva de la ideología dominante ‒hedonista, individualista y utilitarista‒, son percibidos como algo obsoleto y repulsivo y propio de una tradición cultural europea que debe ser aniquilada. Los héroes son demasiado guerreros para una época que aspira a la paz universal, demasiado viriles para una época que considera tóxica la masculinidad. Las víctimas, por el contrario, lejos de fomentar la sensibilidad y la solidaridad, difunden la sensiblería humanitarista a través del impacto de las imágenes audiovisuales: la muerte de un héroe es un hecho circunstancial que se conmemora en sus círculos más íntimos y privados; la muerte de una víctima ‒es indiferente que se trate de una persona, un animal o un vegetal‒ es un acontecimiento mundial que se retransmite por todo el mundo. Y de esta ideología victimista deriva, según Alain de Benoist, la “lucha contra todas las discriminaciones”, que consiste en confundir la discriminación (que, en origen, no era otra cosa que distinción o separación en grados o niveles de tratamiento) con la injusticia. Hay discriminaciones, por ejemplo, perfectamente justas: un ciudadano se beneficia de ciertos derechos y prerrogativas (en contraprestación a sus obligaciones y cargas, por supuesto) que no se conceden a los no-ciudadanos; por el contrario, hay injusticias que no implican ninguna discriminación por razón de raza o sexo, como las desigualdades sociales, que no derivan de la necesidad de un tratamiento diferenciado, sino de la explotación del trabajo por el sistema capitalista.»

09/01/2023

A esquerdização | La izquierdización



«Como é possível que o espectro político se desloque sempre e cada vez mais à esquerda? Assim, o que antes era considerado centrista, passa depois a ser visto como de direita, ou mesmo de extrema-direita; o que ontem diziam apenas uns radicais de esquerda, passa depois à esquerda política e, daí, ao senso comum partilhado por (quase) todos. [...]

A esquerda tem uma explicação rápida para este fenómeno: “Claro, temos razão, como tal é de esperar que a sociedade a vá reconhecendo, pouco a pouco.” Reconheçamos que esta explicação não é muito trabalhada ao nível intelectual.

Curtis Yarvin analisa-a mais profundamente. Para ele, a esquerda representa a abolição das normas que nos preservam do caos; a direita, a sua conservação e adequação aos tempos. Como é possível, então, que nos últimos duzentos anos tenham triunfado aqueles que têm eliminado os diques que nos salvavam da anomia? Esta pergunta exige uma resposta e uma clarificação.

A resposta é que o desenvolvimento tecno-científico permitiu que agora se possam desregular coisas que antes deviam ser reguladas por normas sociais. Asfixiar a mãe com uma almofada, quando ela está doente e desesperada, é uma opção que muito pouca gente considera; mas se desenvolvermos um método que permita eutanasiá-la de um modo mais frio (uma agulha no braço, um líquido transparente, um serviço de saúde que se disponha), começa a tornar-se possível uma lei pró-eutanásia como as que se têm promulgado. Outro tanto se pode dizer dos “avanços” na hora de cometer abortos. Mesmo assim, não se esconde a ninguém que a chegada dos contraceptivos implicou uma mudança das normas sexuais; ou que o desenvolvimento económico permite ser mais frouxo com vícios que antes colocariam em xeque a sobrevivência de uma sociedade; ou que as aplicações informáticas alteraram as normas de cortesia que prevaleciam entre gente educada. Quanto mais avance a ciência e a técnica, mais coisas veremos que antes nos pareciam impensáveis, aceites por cada vez mais gente.»

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«¿Cómo es posible que el espectro político se desplace cada vez más y más a la izquierda? Así, lo que antaño era considerado centrista, pasa enseguida a ser visto como derechista, o incluso de ultraderecha; lo que ayer decían solo unos cuantos exaltados izquierdistas, pasa enseguida a la izquierda política y, de ahí, al sentido común compartido por (casi) todos. [...]

La izquierda tiene una explicación rápida para este fenómeno: “Claro, tenemos razón, es normal que la sociedad vaya poco a poco dándonosla”. Reconozcamos que muy intelectualmente trabajada tal elucidación no es.

Curtis Yarvin la elabora más. Para él, la izquierda representa la abolición de las normas que nos preservan del caos; la derecha, su conservación y adecuación a los tiempos. ¿Cómo es posible, entonces, que en los últimos doscientos años hayan triunfado quienes han ido eliminando los diques que nos salvaban de la anomía? Esta pregunta exige una respuesta y una aclaración.

La respuesta es que el desarrollo tecnocientífico ha permitido que cosas que antes debían regularse con normas sociales, ahora se puedan desregular. Asfixiar con la almohada a tu madre cuando está enferma y desesperada resulta una opción barajable para muy poca gente; pero si desarrollamos un método que nos permita eutanasiarla de modo más frío (una aguja en el brazo, un líquido transparente, un sanitario predispuesto), se empieza a hacer posible una ley proeutanasia como la que rige en nuestro país. Otro tanto cabe decir de los “avances” a la hora de cometer abortos. Asimismo, a nadie se le oculta que la llegada de los anticonceptivos implicó un cambio de las normas sexuales; o que el desarrollo económico permite ser más laxos con vicios que antes pondrían en jaque la supervivencia de una sociedad; o que las aplicaciones informáticas han cambiado las normas de cortesía que regían entre la gente educada. Cuanto más avance la ciencia y la técnica, veremos cosas que antes nos parecían impensables aceptadas por más y más.» (El Manifiesto)

06/01/2023

O pós-guerra imediato | La postguerra inmediata



«A operação russa na Ucrânia acelera a desterritorialização da produção de energia. Com a escassez que se aproxima, os preços subirão e a União Europeia, o principal país afectado, acelerará a priorização da matriz energética renovável. Dada a incapacidade de acompanhar a procura, o racionamento será necessário. Entretanto, o menor consumo de energia e a substituição de combustíveis fósseis não refrearão a sociedade de consumo, mas torná-la-ão mais miserável. Haverá menos consumo de bens físicos e de menor qualidade. O consumo não diminuirá, mas assumirá uma nova forma, e será virtualizado.

Se as forças do capitalismo global não podem abolir fronteiras, farão com que as limitações por elas impostas deixem de ter importância. Grande parte das actividades de emprego, entretenimento e lazer em geral já começaram a ser desterritorializadas e virtualizadas. O Metaverso, ou seja, um ambiente virtual onde as pessoas interagem através de avatares numa realidade artificial criada por computador, é projectado para substituir cada vez mais a materialidade. Ali são realizadas reuniões de negócios, são compradas parcelas de território virtual, são mantidas vidas "paralelas", os casamentos são celebrados e o "sexo" é feito. A realidade virtual é uma iniciativa com tanta projecção que uma empresa tão importante como a Boeing anunciou que começará a construir aviões no Metaverso. Até existem cotações paralelas de criptomoedas, ou seja, abstrai o que já é abstracto. O consumo assume um carácter imaterial de acordo com a filosofia subjacente e a escassez de recursos.

O actual conflito na Ucrânia e a defesa da soberania russa sobre os recursos energéticos acelerou a desterritorialização dos recursos e a virtualização do humano. O caminho tornou-se claro: tornar os recursos energéticos independentes dos territórios, racionar os recursos, empobrecer as populações e contentá-las com uma realidade económica virtual. As multidões amontoadas em hotéis-cápsulas sonharão com paraísos intangíveis, os únicos que poderão visitar. "Eles não terão nada e serão felizes", ou pelo menos sorrirão enquanto tiverem os seus óculos de realidade virtual colocados.»

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«La operación rusa en Ucrania acelera la desterritorialización de la producción energética. Con la escasez en puerta los precios se disparan y la Unión Europea, la principal afectada, acelera la priorización de la matriz renovable. Ante la incapacidad de mantener la demanda será necesario el racionamiento. No obstante, el menor consumo energético y el reemplazo de los combustibles fósiles no acarreará la desaceleración de la sociedad de consumo sino su miserabilización. Habrá menor consumo de bienes físicos y de peor calidad. El consumo no decrecerá sino que adquirirá una nueva forma, se virtualizará.

Si las fuerzas del capitalismo global no pueden abolir las fronteras harán que las limitaciones impuestas por estas dejen de importar. Buena parte de los empleos, el entretenimiento y las actividades de ocio en general ya han comenzado a ser desterritorializadas y virtualizadas. El Metaverso, es decir un entorno virtual donde las personas interactúan por medio de avatares en una realidad artificial creada por computadora, está concebido para suplir en forma creciente la materialidad. En él se hacen reuniones laborales, se compran parcelas de territorio virtual, se mantienen vidas “paralelas”, se celebran matrimonios y se tiene “sexo”. La realidad virtual es una iniciativa con tanta proyección que una empresa tan importante como Boeing anunció que comenzará a construir aviones en el Metaverso. Este incluso cuenta con cotizaciones paralelas de criptomonedas, es decir abstrae lo ya abstracto. El consumo toma un carácter inmaterial acorde con la filosofía subyacente y la escasez de recursos.

El actual conflicto en Ucrania y la defensa de la soberanía rusa sobre los bienes energéticos ha supuesto la aceleración de la desterritorialización de los recursos y de virtualización de lo humano. Se ha evidenciado el camino trazado: independizar los recursos energéticos de los territorios, racionar los recursos, empobrecer a las poblaciones y contentarlas con una realidad económica virtual. Las multitudes apiñadas en hoteles cápsulas soñarán con paraísos intangibles, los únicos que podrán visitar. “No tendrán nada y serán felices”, o al menos sonreirán mientras tengan colocadas sus gafas de realidad virtual.»