Crónicas do Grande Despertar | Crónicas del Gran Despertar

04/08/2022

O nada e o seu niilismo (e 2) | La nada y su nihilismo (y 2)



«O que no regime liberal-libertário se expressa como ideologia de género, ou na forma das demais aberrações desenvolvidas no âmbito do que os franceses chamam “o societal”, tudo isso tem também a sua correlação no âmbito político da “democracia líquida”, designação com a qual faço uma referência óbvia a Ziygmunt Bauman e ao seu conceito da “sociedade líquida”. […]

Os mecanismos são, em ambos casos, extremamente parecidos. Também no âmbito da democracia temos a proclamação inicial de uma liberdade absoluta. Também aqui se desconhece qualquer princípio substancial que estruture o mundo. Também aqui se sustenta tudo sobre a livre vontade e a livre decisão do povo soberano – do povo entendido (e aqui começam os problemas) não como ente orgânico e dotado da sua própria dinâmica histórica, mas como uma mera soma de átomos individuais. […] Também aqui as aparências democráticas necessitam, para que o mundo não se afunde completamente, uma base firme para se alicerçar. E para a estabelecer, também aqui tais aparências não podem senão converter-se num profundo engano – e um engano que, também aqui, se infiltrou e entranhou profundamente no imaginário colectivo dos nossos povos.

Vejamos como funciona o dito engano. As aparências demo-liberais têm uma absoluta e indiscutível força de lei. Legalmente falando, todas as ideias, todas as opções, todas as concepções do mundo são, desde que respeitem os procedimentos legalmente existentes, igualmente válidas e justas, igualmente boas e verdadeiras. Todas são inquestionáveis; ou – no que vai dar ao mesmo – todas se podem questionar e refutar. Para a lei, o conteúdo das ideias e concepções do mundo é rigorosamente indiferente. Mas para a realidade das coisas, não. Todas as ideias e concepções têm o mesmo direito à palavra, é certo, mas há uma delas que o tem incomparavelmente mais. Há uma e apenas uma (com todas as variantes que se queira) que fala sem parar e desde o único lugar de onde faz sentido falar: desde o centro do mundo, desde os poderosos meios de comunicação e doutrinamento de massas, desde os quais, e só desde eles, se chega a todo o mundo.

As outras ideias, as outras concepções do mundo, as dos rebeldes e insubordinados, também têm, é certo, o mesmo direito à palavra e à sua encarnação política. Mas esse direito, para eles – para nós, enfim… – é apenas formal, é apenas jurídico. Esse direito não serve de nada (ou de muito pouco…) se não se exerce desde os grandes meios de comunicação que, dominando o mundo e a gente, modulam os sentimentos e o pensamento (ou o que ocupa o lugar deste). […]

Tal é o engano em que se baseia a democracia liberal-libertária: o de proclamar e conceder com uma mão – a da lei – a liberdade que a sua outra mão – a da realidade, e em particular da realidade mediática – restringe em favor apenas daqueles que partilham a concepção dominante do mundo.»

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«Lo que en el régimen liberal-libertario se expresa como ideología de género o en forma de las demás aberraciones desarrolladas en el ámbito de lo que los franceses llaman “lo societal”, todo ello tiene también su correlación en el ámbito político de “la democracia líquida”, denominación con la que estoy haciendo un obvio guiño a Ziygmunt Bauman y a su concepto de “la sociedad líquida”. […]

Los mecanismos son, en ambos casos, sumamente parecidos. También en el ámbito de la democracia tenemos la proclamación inicial de una libertad absoluta. También aquí se desconoce cualquier principio sustancial que vertebre al mundo. También aquí se sostiene todo sobre la libre voluntad y la libre decisión del pueblo soberano —del pueblo entendido (y ahí empiezan los problemas) no como ente orgánico y dotado de su propia dinámica histórica, sino como una mera suma de átomos individuales. […] También aquí las apariencias democráticas necesitan, para que el mundo no se hunda del todo, una base firme sobre la que asentarse. Y para establecerla, también aquí tales apariencias no pueden sino convertirse en un profundo engaño —y engaño que, también aquí ha calado y se ha engarzado profundamente en el imaginario colectivo de nuestros pueblos.

Veamos cómo funciona dicho engaño. Las apariencias democrático-liberales tienen absoluta, indiscutible fuerza de ley. Legalmente hablando todas las ideas, todas las opciones, todas las concepciones del mundo son, con tal de que respeten los procedimientos legalmente vigentes, igual de válidas y justas, igual de buenas y verdaderas. Todas son incuestionables; o lo que es lo mismo: todas se pueden cuestionar e impugnar. Para la ley, el contenido de las ideas y concepciones del mundo es estrictamente indiferente. Pero para la realidad de las cosas, no. Todas las ideas y concepciones tienen el mismo derecho a la palabra, es cierto, pero hay una de ellas que lo tiene incomparablemente más. Hay una y sólo una (con todas las variantes que se quiera) que habla sin parar y desde el único lugar desde el que tiene sentido hablar: desde el centro del mundo, desde los poderosos medios de comunicación y adoctrinamiento de masas desde los cuales y sólo desde ellos se llega a todo el mundo.

Las demás ideas, las demás concepciones del mundo, las de los rebeldes y díscolos, también tienen, es cierto, el mismo derecho a la palabra y a su encarnación política. Pero ese derecho, para ellos —para nosotros, en fin…— es sólo formal, es sólo jurídico. Ese derecho no sirve de nada (o de tan poco…) si no se ejerce desde los grandes medios de comunicación que, dominando al mundo y a las gentes, modulan los sentimientos y el pensamiento (o lo que tiene lugar de éste). […]

Tal es el engaño en el que se basa la democracia liberal-libertaria: el de proclamar y otorgar con una mano —la de la ley— la libertad que su otra mano —la de la realidad, y en particular la realidad mediática— restringe a favor tan sólo de quienes comparten la concepción dominante del mundo.»

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