Crónicas do Grande Despertar | Crónicas del Gran Despertar

23/08/2022

O consenso totalitário | El consenso totalitario



«A linguagem do Bem é subtil. Espuma-se autocomplacente no elogio do Outro – os queridos Outros! –, faz o louvor da diversidade, do pluralismo e da tolerância. Mas, com isto, quer dizer exactamente o contrário. O “Outrismo” trata, de facto, de erradicar a alteridade. A alteridade gera discriminação, rivalidade, ódio ao estrangeiro… e a unificação benéfica da humanidade passa pela mestiçagem universal. Como é possível conciliar o inconciliável? Como é possível cair extasiados ante as identidades culturais e étnicas, e ao mesmo tempo promover a sua dissolução na mestiçagem? Chegamos ao núcleo do projecto progressista: o Outro é sempre bem-vindo se a sua religião se dissolve na cultura, a sua cultura no folclore, e a sua identidade em simulacro. Ou seja, se o Outro se converte no Mesmo. O elogio do Outro é sempre o primeiro passo para a estandardização do planeta.

Imposição e omnipresença do Mesmo. Trata-se de erradicar a negatividade, a contradição, o real, tudo aquilo que constituía a História e que, na pós-história, não é mais que “o Mal”. É o Império do Bem: um moralismo ubíquo que conta com os seus beatos, os seus missionários, as suas damas da caridade e as suas ligas da Virtude. Com os seus evangelhos: o dogma da mestiçagem, da amálgama, da abolição de fronteiras, da abolição da diferença sexual, da abolição de toda a diferença. Com os seus instrumentos repressores: uma síndrome maníaco-legislativa e uma praga justiceira que Muray baptiza como “erótica do penal” [tradução muito livre da expressão Envie du pénal] que se desdobra num arsenal de mecanismos de delação e de punição contra qualquer conduta supostamente discriminatória por motivos de origem, sexo, estado de família, saúde, deficiências, características físicas, orientação sexual, idade, nação, raça, religião e um longuíssimo etcétera. E com o correspondente zelo persecutório contra qualquer ideia, criação ou linha de investigação suspeita de fomentar ou estimular formas de pensar incorrectas. Uma empresa de purificação ética que reclama vigilância, controlo, prevenção, e que se traduz numa bulimia normativa que persegue qualquer vislumbre de vazio legislativo, que não pára de inventar novos delitos contra a saúde, contra a higiene, contra os costumes julgados bárbaros ou pré-históricos, e que encurrala, organiza e entaipa qualquer interstício por onde possa assomar a vida, ou seja, tudo aquilo que não condiz com o seu ideal de assepsia absoluta e da sua lívida, insípida e frígida Transparência.»

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«El lenguaje del Bien es sutil. Se espuma autocomplacido en el elogio del Otro – ¡los queridos Otros!–, hace la alabanza de la diversidad, del pluralismo y de la tolerancia. Pero con ello quiere decir justamente lo contrario. De lo que trata el “Otrismo” es de erradicar la alteridad. La alteridad genera discriminación, rivalidad, odio al extraño… y la unificación benéfica de la humanidad pasa por el mestizaje universal ¿Cómo es posible conciliar lo inconciliable? ¿Cómo es posible caer extasiados ante las identidades culturales y étnicas, y al mismo tiempo promover su disolución en el mestizaje? Llegamos al núcleo del proyecto progresista: el Otro siempre es bienvenido si su religión se disuelve en cultura, su cultura en folklore, y su identidad en simulacro. Es decir, si el Otro se convierte en lo Mismo. El elogio del Otro es siempre el primer paso hacia la estandarización del planeta.

Imposición y omnipresencia de lo Mismo. Se trata de erradicar la negatividad, la contradicción, lo real, todo aquello que constituía la Historia y que en la post-historia no es más que “el Mal”. Es el Imperio del Bien: un moralismo ubicuo que cuenta con sus beatos, sus misioneros, sus damas de la caridad y sus ligas de la Virtud. Con sus evangelios: el dogma del mestizaje, de la amalgama, de la abolición de fronteras, de abolición de la diferencia sexual, de abolición de toda diferencia. Con sus instrumentos represores: un síndrome maníaco-legislativo y una peste justiciera que Muray bautiza como “erótica de lo penal” [traducción muy libre de la expresión Envie du pénal] y que se despliega en un arsenal de mecanismos de delación y de punición contra cualquier opinión o conducta supuestamente discriminatoria por motivos de origen, sexo, estado de familia, salud, discapacidades, características físicas, orientación sexual, edad, nación, raza, religión y un larguísimo etcétera. Y con el correspondiente celo persecutor contra cualquier idea, creación o línea de investigación que sea sospechosa de dar pábulo o alentar formas de pensar incorrectas. Una empresa de purificación ética que reclama vigilancia, control, prevención, y que se traduce en una bulimia normativa que persigue cualquier atisbo de vacío legislativo, que no cesa de inventar nuevos delitos contra la salud, contra la higiene, contra las costumbres juzgadas bárbaras o prehistóricas, y que acorrala, organiza y tabula cualquier resquicio por donde pueda asomar la vida, o sea, todo aquello que se salga de su ideal de asepsia absoluta y de su lívida, insípida y frígida Transparencia.»

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