Crónicas do Grande Despertar | Crónicas del Gran Despertar

15/05/2024

O espírito capitalista | El espíritu capitalista


«Sombart observa que, com o tempo, se produziu uma alteração na mentalidade burguesa e, por isso, fala da passagem do que designa por “burguês à moda antiga” (dos inícios do capitalismo no séc. XVIII) ao homem económico moderno, homo economicus. O burguês à antiga era “um empresário capitalista que procurava o lucro como objectivo e fundava empresas como um meio para alcançá-lo”, pois isto era considerado uma virtude burguesa. No entanto percebe-se que o burguês à antiga se guia, antes de tudo, pela consideração do bem e do mal: a riqueza não é um fim em si mesmo, mas um meio para criar e conservar valores em relação com a vida. Procura a calma e o descanso acima de tudo. Pelo contrário, o espírito do homem económico moderno caracteriza-se pela sua atracção pelo ilimitado e pelo infinito. Não é por acaso que, em A Decadência do Ocidente, Spengler fala dessa paixão “faustica” ocidental pelo ilimitado e pelo infinito. O homem económico moderno procura ganhar tanto quanto seja possível, fazer prosperar o seu negócio ao máximo, sem outro interesse além do próprio lucro. É uma lógica interminável: é, simultaneamente, ilimitada e, em sentido teleológico, sem outro fim à vista. A figura do Fausto de Goethe, aliado do demónio Mefistófeles, parece ser a imagem invertida do homem piedoso liberto das grilhetas eclesiásticas que estava só perante Deus. Os seus instrumentos são a magia e o dinheiro. Este livro apareceu precisamente nos alvores das revoluções técnica, industrial e económica ocidental. Goethe vê o amanhecer desta empresa sem precedentes, que tem como objectivo reconstruir o mundo, misturando o conformismo burguês e o Antigo Regime, ao qual já não lhe restam forças para continuar a existir. Fausto é a encarnação da nova aventura iniciada pelo capitalismo.

Livre do poder da racionalização, o homem de negócios moderno pode concentrar-se inteiramente em ampliar o seu comércio com a intenção de querer cada vez mais. A este último tortura-o a aspiração ao infinitamente grande: lucrum in infinitum, a procura do lucro pelo lucro. Mas a procura do lucro é necessária a qualquer economia capitalista que queira prosperar, pelo que deve sempre ir além das suas necessidades. Baudrillard interessou-se especialmente pelo acto do consumo no mundo moderno. O posicionamento do homem moderno é de um homem ávido do consumo interminável das “experiências” que lhe pode proporcionar o mundo comercial. Este mundo comercial não é, na realidade, mais do que um mercado do desejo que se vê obrigado a passar pela sedução (Michel Clouscard) e pelo espectáculo (no sentido em que Guy Debord o entende em A Sociedade do Espectáculo) como “fetichismo da mercadoria”, que foi teorizado primeiramente por Marx. O objectivo é controlar o universo simbólico para perpetuar e acentuar a lógica capitalista. Como diz Baudrillard em A Sociedade do Consumo: “É preciso experimentar tudo, porque, ao consumidor, persegue-o o medo de ‘perder’ alguma coisa, ou seja, o desfrute de qualquer tipo. Nunca sabe se tal ou qual contacto, tal ou qual experiência (Natal nas Canárias, enguia com whisky, museu do Prado, LSD, fazer amor à japonesa) não lhe causará uma ‘sensação’ única. Já não é o desejo, nem sequer o ‘gosto’ ou uma inclinação específica o que está em jogo; é uma curiosidade generalizada impulsionada por uma obsessão difusa: é a ‘moral da diversão’ ou o imperativo de divertir-se, de explorar ao máximo todas as possibilidades de se emocionar, desfrutar ou gratificar-se”.

É nessa orientação forçada da actividade capitalista onde reside a possibilidade psicológica tanto da aspiração ao infinitamente grande como ao infinitamente pequeno. A aspiração ao infinito só se pode satisfazer, por sua vez, mediante o desenvolvimento da técnica moderna e o ódio à harmonia natural. Esse desenvolvimento pretende “alcançar um estado que não se define por nada, a não ser pela capacidade de alcançar novos estados”, como explica Cornelius Castoriadis, e reintegrar desse modo o infinito no mundo material. Se os empresários quiserem seguir o ritmo das invenções tecnológicas, só o poderão fazer ampliando indefinidamente os seus negócios. Em consonância com esta evolução, produz-se o infinitamente pequeno através da contracção do tempo e da minimização de custos. O capitalismo, com a ajuda da tecnologia, determina o ritmo da vida espiritual do homem económico moderno, que se vê obrigado a apressar-se, ainda que não queira seguir por esse caminho. O que diferencia fundamentalmente o homem moderno do homem tradicional, é que ele deixou de ser a medida de todas as coisas. Os traços psíquicos do homem moderno definem-se por uma racionalização absoluta que impregna todos os âmbitos da vida, e uma proclamação da superioridade do lucro sobre todos os outros valores. De facto, certo número de virtudes burguesas, próprias do burguês de antigamente (diligência, poupança, honorabilidade), perderam-se no homem económico moderno e tornaram-se, pelo contrário, em princípios objectivos inerentes a toda a conduta económica. A natureza da actividade económica deixou de ser empírica (a economia da procura e do uso) para passar a ser racional (a economia da oferta e do intercâmbio).»

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«Sombart observa que con el tiempo se produjo un cambio en la mentalidad burguesa y por eso habla de un paso de lo que llama el “burgués de viejo cuño” (de los comienzos del capitalismo en el siglo XVIII) al hombre económico moderno, homo economicus. El burgués a la antigua era “un empresario capitalista que buscaba el beneficio como objetivo y fundaba empresas como un medio para alcanzarlo”, ya que esto era considerado como una virtud burguesa. Sin embargo, se entiende que el burgués a la antigua se guía ante todo por la consideración del bien y del mal: la riqueza no es un fin en sí mismo, sino un medio para crear y conservar valores en relación con la vida. Busca la calma y el descanso por encima de todo. En cambio, el espíritu del hombre económico moderno se caracteriza por su atracción por lo ilimitado y lo infinito. No es casualidad que en La decadencia de Occidente Spengler hable de esa pasión “fáustica” occidental por lo ilimitado o lo infinito. El hombre económico moderno busca ganar tanto como sea posible, hacer prosperar su negocio lo más que pueda, sin otro interés que la propia ganancia. Es una lógica interminable: a la vez ilimitada y, en sentido teleológico, sin otro fin a la vista. La figura del Fausto de Goethe, aliado del demonio Mefistófeles, parece ser una imagen invertida del hombre piadoso liberado de los grilletes eclesiásticos que estaba solo ante Dios. Sus instrumentos son la magia y el dinero. Precisamente este libro apareció en los albores de las revolución técnica, industrial y económica occidental. Goethe ve el amanecer de esta empresa sin precedentes que tiene como objetivo reconstruir el mundo, mezclando el conformismo burgués y el Antiguo Régimen al cual ya no le quedan fuerzas para continuar existiendo. Fausto es la encarnación de la nueva aventura iniciada por el capitalismo.

Libre del poder de la racionalización, el hombre de negocios moderno puede concentrarse enteramente en ampliar su comercio con la intención de querer cada vez más. A este último le tortura la aspiración a lo infinitamente grande: lucrum in infinitum, la búsqueda de la ganancia por la ganancia. Pero la búsqueda de la ganancia es necesaria para cualquier economía capitalista si quiere prosperar, por lo que siempre debe ir más allá de sus necesidades. Baudrillard se interesó especialmente por el acto de consumo en el mundo moderno. El planteamiento del hombre moderno es el de un hombre ávido de consumo interminable de “experiencias” que le puede proporcionar el mundo comercial. Este mundo comercial no es en realidad más que un mercado del deseo que se ve obligado a pasar por la seducción (Michel Clouscard) y el espectáculo (en el sentido en que Guy Debord la entiende en La sociedad del espectáculo) como “fetichismo de la mercancía”, que fue teorizado por primera vez por Marx. El objetivo es controlar el universo simbólico para perpetuar y acentuar la lógica capitalista. Como dice Baudrillard en La sociedad del consumo: “Hay que probarlo todo, porque al consumidor le persigue el miedo a ‘perderse’ algo, es decir, el disfrute de cualquier tipo. Nunca sabe si tal o cual contacto, tal o cual experiencia (Navidad en Canarias, anguila o whisky, el Prado, L.S.D., hacer el amor a la japonesa) no le producirá una ‘sensación’ distinta. Ya no es el deseo, ni siquiera el “gusto” o una inclinación específica lo que está en juego, es una curiosidad generalizada impulsada por una obsesión difusa: es la ‘moral de la diversión’ o el imperativo de divertirse, de explotar al máximo todas las posibilidades de emocionarse, disfrutar o gratificarse”.

Es esa orientación forzada de la actividad capitalista donde reside la posibilidad psicológica tanto de la aspiración a lo infinitamente grande como a lo infinitamente pequeño. La aspiración al infinito sólo puede satisfacerse, a su vez, mediante el desarrollo de la técnica moderna y el odio hacia la armonía natural. Este desarrollo pretende “alcanzar un estado que no se define por nada, salvo por la capacidad de alcanzar nuevos estados”, como explica Cornelius Castoriadis, y reintegrar de ese modo lo infinito en el mundo material. Si los empresarios quieren seguir el ritmo de las invenciones tecnológicas sólo podrán hacerlo ampliando indefinidamente sus negocios. En consonancia con esta evolución se produce lo infinitamente pequeño mediante la contracción del tiempo y la minimización de los costes. El capitalismo, con la ayuda de la tecnología, determina el ritmo de la vida espiritual del hombre económico moderno que se ve obligado a darse prisa, aunque no quiera seguir ese camino. Lo que diferencia fundamentalmente al hombre moderno del hombre tradicional es que ha dejado de ser la medida de todas las cosas. Los rasgos psíquicos del hombre económico moderno se definen por una racionalización absoluta que impregna todos los ámbitos de la vida y una proclamación de la superioridad de la ganancia sobre todos los demás valores. De hecho, cierto número de virtudes burguesas propias del burgués de antaño (diligencia, ahorro, honorabilidad) se han perdido en el hombre económico moderno y más bien se han convertido en principios objetivos inherentes a toda conducta económica. La naturaleza de la actividad económica ha pasado de ser empírica (la economía de la demanda y el uso) a ser racional (la economía de la oferta y el intercambio).»[artigo integral]

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